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No Limiar da Sombra - II

He raised his hand, and spoke in a clear cold voice. 'Saruman, your staff is broken.' (The Lord of The Rings - The Two Towers, book 1, chapter 10)

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- E você assume que caminhou com pessoas que não pertencem a Ordem através dos Labirintos Astrais da Escada de Prata, revelando os Corredores Infinitos e colocando em risco a Ars Mysteriorum?


- Sim, senhor.


- E você assume que permitiu que pessoas que não pertecem a Ordem e que não possuem autorização para tal, viajassem através dos Portais Prismáticos?


- Sim, senhor.


- E você entende que através da sua negligência e rebeldia, todas as Regras Primordiais da Escada de Prata foram quebradas, Uzefeus Uzra, guardião da Escada de Prata, a guilda dos Magos e Feiticeiros do Estado de Lavínia?


- Sim, senhor.


- E você assume que ao quebrar essas regras, você colocou em risco a integridade das Esferas Arcanas, das Chaves para os Planos Transitivos, Interiores, Exteriores e Semiplanos, dos Enigmas Estabilizadores de Arcana, dos Mecanismos Etéreos e de todos os Artefatos Arcanos, ao possibilitar o acesso não autorizado de pessoas que não pertecem a Ordem a tais elementos?


- Como os Artefatos Arcanos criados por Kaldor e as Hofkiins, senhor? - emendou rapidamente Uzefeus, erguendo a cabeça e encarando os olhos cintilantes de Izahl Proxmorths, o Arquimago Supremo de Proxmorths, a maior academia de arcanismo do continente Kaldoriano, em Damarani, a capital da magia, bruxaria, feitiçaria e arcanismo.


Por um breve momento houve comoção na sala em forma de meia lua. Três se sentavam a esquerda de Izahl, e três a sua direita na mesa de julgamento. Suas vozes não saiam de suas bocas, ao invés disso ecoavam pela sala escura, fazendo as runas cravadas nas paredes pulsarem e cintilarem como se a sala ressoasse a mensagem.


O único ponto de luz era projetado diretamente sobre Uzefeus, como se um holofote estivesse logo acima de sua cabeça. Ajoelhado no meio da sala, O Guardião da Escada de Prata já sabia o seu destino mas se dirigiu a Proxmorths assim que a convocação chegou em sua mente através da rede telepática, quase que imediatamente após deixar os irmãos Heward e seus amigos, utilizarem o Portal Prismático.


- Não se atreva jamais a mencionar este nome novamente aqui em Proxmorths, Uzefeus Uzra, você sabe as consequências destes atos no Norte do continente e eu não serei piedoso da próxima vez.


Uzefeus olhou em volta e encarou as sete figuras que pareciam imensas na mesa logo acima dele. Delas, só era possível distinguir as formas humanóides, mas seus rostos estavam encobertos em sombras e seus mantos arcanos exibiam runas de outro plano que Uzefeus pouco havia estudado. Seus olhos eram pequenas luzes vermelhas, cintilantes e imóveis. A comunicação na sala era feita de outras formas que não apenas palavras: sons, inversão dos eixos e planos, mudanças na densidade do ar, vozes ecoando nas profundezas da mente. A sala girava e rodopiava, esticava e encolhia, crescia e diminuia, mudando e se transformando a medida que a intenção da voz era proferida, se adaptando às vontades, desejos e sentimentos de Izahl.


- Este Conselho sequer é válido, Izahl. Onde estão os Guardiões dos outros Estados? A Lei Primordial assinada por Kaldor na fundação do Estado de Damarani garante que qualquer decisão do Conselho só pode ser executada quando todos os Guardiões forem convocados e além de mim, eu não estou vendo nenhum outro Guardião aqui.


A sala rodopiou novamente. Uma fumaça envolveu Uzefeus e seu corpo foi esticado até os limites do infinito, atravessou dimensões interestelares e foi reduzido a um ponto ínfimo no espaço-tempo - seu corpo, agora estirado no chão, como se uma tonelada tivesse tombado sobre seu peito e então a voz e Izahl ecoou retumbantemente.


- Eu sou a palavra de Proxmorths. - e sua barba se agitou, como se uma entidade estivesse tentando se libertar dos longos fios prateados - Todos os Guardiões respondem à Proxmorths. E eu determino agora que o Conselho é composto por aqueles que eu apontei e que estes, estão presentes neste julgamento, Uzefeus. Sua palavra não tem poder aqui.


Uzefeus sentiu seu corpo ser esmagado pela presença de Izahl e das outras seis figuras na sala. Elas se esticavam e se debruçavam sobre ele como um gato acua sua presa num canto da sala.


- Mas é claro - e seu tom de voz se amaciou, num misto de ironia e desdém e toda a sala relaxou junto, como se tivesse expirado todo o ar acumulado dentro dos pulmões - que precisamos respeitar as regras d'A Casa, não é mesmo, senhoras e senhores aqui presentes e sabemos o quanto Uzefeus infringiu todas as regras e códigos de conduta da Escada de Prata.

Dessa forma, pelo poder concedido a mim, Izahl Proxmorths como Arquimago Supremo de Proxmorths, declaro que Uzefeus Uzra, Guardião da Escada de Prata de Lavínia está irrevogavelmente expulso da Ordem, devendo abandonar imediatamente o seu posto como Guardião da Escada de Prata e que toda sua posse sobe o Ars Mysteriorum de Lavínia, deverá ser delegada a outro Guardião, que será apontado por este Conselho, e que assumirá o posto na Escada de Prata em Lavínia em até quatro horas. Se alguém tiver alguma objeção ou se opor a esta decisão, peço que se manifeste neste momento.


Um silêncio abissal tomou conta da sala. As outras figuravas permaneceram estáticas, como manequins. Era óbvio para Uzefeus que nenhuma daquelas entidades ali se manifestaria contra essa decisão. O Conselho já não era mais o mesmo e o que Uzefeus previu anos atrás, estava se concretizando. Ur não estava desaparecido coisa nenhuma e se alguém teria poder suficiente para corromper Damarani e Proxmorths além do próprio Kaldor, este alguém seria Ur.


- Uzefeus, como reconhecimento ao seu esforço dentro da Ordem, vamos conceder a você o direito de retornar à Escada de Prata para retirar os seus pertences e de cumprir a sua obrigação como Guardião de neutralizar a fidelidade das Esferas Arcanas e remover os segredos das Chaves Planares.

 

Em incontáveis giros da sala, Uzefeus agora estava ajoelhado novamente de frente para a mesa. Suas mãos seguiam presas ao lado do corpo e ele sentiu que através da decisão do Conselho, a revogação da lealdade da Escada de Prata fora enviada pelas Linhas de Ley, rompendo os Laços Arcanos de Uzefeus com o prédio em Lavínia. Era uma questão de tempo, agora, até que o prédio deixasse de responder aos seus comandos.

 

-  Você tem alguma dúvida sobre as suas atribuições agora, Uzefeus?


- Não, senhor - respondeu Uzefeus que sabia que não teria chance alguma de se rebelar naquele momento ou sequer argumentar de outra forma.


- Posto isso, enviaremos você de volta para Merla. Cumpra a sua missão e abandone seu cargo de Guardião com o mínimo de dignidade e honra que ainda lhe restam.

 

Uzefeus ouviu um estalo ao seu lado e percebeu como se a sala tivesse se tornado um grande espelho e estivesse rachando sobre ela mesma: um portal prismático estava sendo aberto ali e o levaria de volta para Merla. Uzefeus sentiu as correntes que prendiam suas mãos se soltarem, então se levantou rapidamente, olhou uma última vez para O Conselho e jurou em silêncio que retornaria para dar um fim a tirania de Izahl e exterminar de uma vez por todas o Conselho - e atravessou o Portal Prismático.



 


Ao chegar em Merla, Uzefeus se deparou com o mesmo clima tempestuoso de quando ele havia saído mas havia um problema agora: com a Escada de Prata deixando de responder a seus comandos as esferas arcanas também fariam o mesmo e consequentemente todos os feitiços de proteção lançados em Merla e no próprio prédio seriam desfeitos. Uzefeus respirou fundo e sentiu o cheiro de sangue, o cheiro de que algo não estava certo na cidade e que certamente o trabalho do Conselho foi apenas uma forma de derrubar a proteção de Lavínia para que algo maior pudesse tomar conta da cidade.


Durante uma fração de segundo o tempo parou: as gotas de chuva ficaram suspensas no ar, as nuvens se movimentando no sombrio céu congelaram no ar e sua projeção mental se desprendeu de seu corpo. Agora era como se o Guardião tivesse ouvidos em todos os cantos da cidade e seus olhos eram múltiplos e sua pele sentia as menores variações de texturas e temperaturas - Uzefeus, nesta fração de segundo, tinha agora percepção da situação atual da cidade. Além disso, só agora o Mago havia se dado conta de que algumas horas se passaram desde que ele passou pelo julgamento em Damarani.


De repente um trovão seguido pelo relinchar dos cavalos nos estábulos e uma gritaria ensurdecedora rua acima. Gritos desesperados mulheres e pessoas começaram a soar em diversos cantos da cidade. Uzefeus correu rapidamente até a rua mais próxima e percebeu através da densa chuva e da neblina, que um exército de mortos vivos havia tomado conta da cidade e caminhavam em enorme quantidade pelas ruas de Merla.

 

Não eram mortos vivos comuns. Uzefeus já havia visto aquilo em outros momentos da sua vida e a assinatura mágica do local era clara de que alguém ou alguma coisa extremamente versada na escola da Necromancia havia conjurado ou ressuscitado o exército de mortos vivos em Merla. Seus anos de experiência em magia e a intensidade com que a magia ressoava na cidade deixava bem claro de que aquilo não estava acontecendo apenas em Merla e sim, em Lavínia inteira.


Uzfeus correu em direção à Escada de Prata, seu coração batia rapidamente e ele estava ofegante, cansado e dolorido de ter ficado deitado no chão por todo aquele tempo. Ele sentia que o prédio, que por anos havia vinculado sua fidelidade, começava a entrar em dissonância com o seu próprio padrão magico e que andar pelos Corredores Infinitos se tornaria uma tarefa cada vez mais arriscada a cada minuto que passava.


Mas ainda havia algo a ser feito. Um grupo de heróis no extremo norte do Estado, buscava entender o que estava acontecendo em Lavínia e que se existisse alguém que poderia ajudar a resolver este problema todo e a lutar contra o que quer que seja esta força em Merla, seriam essas pessoas.


De repente outro trovão e no clarão de um relâmpago, alguma coisa atacou Uzefeus pelas costas, rasgando, mordendo e arranhando suas costas e seu pescoço. O Guardião se desvencilhou da criatura, um morto-vivo, bem a tempo de rolar para o lado e desviar de mais 2 Ghouls que correram em sua direção. Com um rodopio rápido no chão, o Mago se colocou de pé, fechou os olhos e estendeu ambas as mãos para as criaturas: sua mente estava limpa e ele podia visualizar como se a própria luz do Sol surgisse na ponta de seus dedos, se acumulando cada vez mais e mais, gerando ondas de calor que logo se tornaram uma enorme labareda e seus dedos agora crepitavam com lampejos vermelhos de energia. A imagem do feitiço estava pronta, Uzefeus abriu os olhos também em chamas e apontou a ponta de seus dedos para os mortos vivos. Então uma imensa labareda de fogo e raios vermelhos avançou como o fogo selvagem se alastra numa floresta seca, pulverizando instantaneamente as três criaturas na sua frente.

 

O Guardião, que sabia que não havia tempo a perder e que não podia se dar ao luxo de encontrar outras dessas criaturas, entrou rapidamente na Escada de Prata e de repente o prédio já não parecia mais tão familiar e... qual era mesmo o caminho? Ele parou, fechou os olhos novamente no grande salão prateado, acessou seu Palácio Mental e traçou sua rota nos Corredores Infinitos até a sala dos pergaminhos mágicos. Uzefeus estava cansado e não apenas todos os feitiços e encantamentos realizados até aquele momento haviam esgotado a enorme resiliência do Mago, como também o próprio prédio se protegia de seu antigo guardião, aumentando o esforço de utilizar encantamentos naquele local.


Após alguns minutos correndo pelos enormes corredores, Uzefeus chegou na sala onde pegou um pergaminho de teletransporte, um diamante e com um enorme esforço acessando novamente seu Palácio Mental, que já pouco se lembrava dos caminhos nos Corredores Infinitos, traçou uma nova rota, dessa vez para a sala do portal prismático.


Seu destino dessa vez, seria o norte de Lavínia, Grandil, onde os irmãos Heward estavam.

 

O Guardião correu novamente pelos Corredores Infinitos e entrou na sala do Portal. Ao chegar lá, o já conhecido portal prismático o aguardava e essa seria a última vez que Uzefeus veria o singelo arco feito de pedra com runas arcanas inscritas ao seu redor. Posicionado no centro da sala, agora bastava ele imaginar o destino de forma bastante clara e atravessar o véu sublime do portal.

 

Uzefeus já havia feito isso outras vezes e conhecia o estado de Lavínia como a Palma da mão. Para deixar sua travessia ainda mais precisa ele relembrou a assinatura mágica de Ivies, sincronizou seu padrão arcano com do mago e encontrou precisamente onde ele estava. Assim ele atravessou o frio e úmido véu do portal prismático.

 


 


Ao chegar do outro lado ele se deparou com uma cena de guerra: dezenas ou centenas de mortos vivos caídos no chão e um feixe enorme de energia necromântica emergindo da pequena capela ao norte Grandil. Então ele ouviu uma gritaria vindo de dentro da construção abandonada e rapidamente avançou colina acima em direção à Capela. Foi neste momento onde ele viu os irmãos Heward e os outros aventureiros deixando a desesperadamente a construcão, enquanto outros feixes de energia necromântica surgiam em vários outros locais do Estado e podiam ser vistos de longe.


Com um novo pulso energético todos os mortos vivos que antes estavam deitados no chão, tremelicaram. Alguns se levantaram em silêncio absoluto, sorrateiros, espreitando na escuridão. Outros, grunhiram e gritaram, levantando a contragosto de seu descanso eterno por alguém, em algum lugar, trazendo as pobres criaturas de volta a vida.


Sabendo que não dariam conta de lidar com todas aquelas criaturas, Uzefeus rapidamente tirou o Diamante do bolso e visualizou a a abertura de um portal - do pó ao diamante e do diamante ao pó, em sua mente a fina poeira cintilante rodopiava e se transformava num espelho que refletia a entrada da Escada de Prata. Este espelho agora ganhava forma física na frente dos outros cinco aventureiros e num CRECK, o espelho se quebrou, abrindo o Portal Prismático de volta para Merla.

 

Os outros cinco olharam em volta sem saber o que fazer e num grito Uzefeus ordenou que todos entrassem no portal - exceto se uma capela destruída e uma horda de mortos vivos fosse a última coisa que eles quisessem ver nesta vida. Numa fração de segundo todos os seis estavam novamente em Merla.


O choque de realidade disparou como um soco bem dado no estômago de todos os aventureiros que retornaram a Merla: o cenário da pacífica e bela cidade dos Halfings, casa da liberdade criativa e amizade, havia se transformado num local grotesco repleto de sangue e mortos vivos andando pela cidade, alimentando os gritos das pessoas sendo devoradas vivas, que ecoavam por todos os lados.

 

Merla já não era mais a mesma e apenas um pequeno grupo de pessoas poderia reverter este quadro e evitar a destruição total da cidade.

 

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